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Ela chegou falando-me de excesso de peso em nosso primeiro encontro. Sentia-se infeliz e sustentava a crença de que tinha sido “abandonada” pelo companheiro. Eu a observava, mas os olhos dela estavam distantes, presos a cortina, ou seja, longe do ambiente em que nos encontrávamos. Indiretamente responsabilizava a ausência do parceiro pelo aumento de peso.
Perguntei-lhe como era sua constituição física na infância e se em alguma outra fase da vida teria oscilado as medidas. Relatou-me que em outra ocasião quando o pai “largou” a mãe dela também havia engordado. Para justificar sua crença contou alguns episódios que apenas justificavam e reforçavam seu padrão de pensamento e pude perceber que de certa maneira, fazia parte da ancestralidade feminina.
No processo que se desenvolveu através de nosso curto relacionamento ela percebeu como reverberava dentro dela o holograma da linhagem familiar com crenças e padrões que apenas se repetiam ao longo das gerações. Um dia, deu-se conta do mecanismo silencioso de abandono, o largar-se e naturalmente começou a selecionar melhor o que escolhia para se nutrir, vestir, ouvir, ler. Passou a se arrumar, cortou os cabelos, procurou antigas amigas, sua pele e olhar começaram a se encher de viço, de seiva vital. Com esforço próprio passou a caminhar todos os dias e pasmem um dia foi reencontrar antigos amigos da época de colégio. Reencontrou um antigo namorado, recém separado também e permanecem juntos até o que sei. Ela recuperou as pazes com o número do manequim que considerava adequado vestir.
O que posso dizer é que quando se está pronto para entender o processo é possível enxergar como o padrão funciona. Quando se abre mão e ocorre o desapego às justificativas, ela, a (estorinha) repetida inúmeras vezes dentro da mente, se dissolve dando espaço ao fluxo de inovadoras conquistas. Você pode me perguntar o que eu fazia. Apenas observava com escuta ativa, acolhia e ambas desenvolvíamos conversas expansivas, expressivas para o sábio inconsciente profundo que a seu jeito, na sua medida e tempo, naturalmente fez as mudanças possíveis.
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